1.12.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 38

 – Não acredito que seu pai não acreditou em você - disse Taís.

– Ele nunca acredita - respondeu Gabriela.

– E a tia Paulina?

– Ficou louca. Disse que era caso de polícia.

– Ainda bem que a gente tá aqui.

Taís tomou um gole da água morna do copo de plástico frágil, com cuidado para não amassá-lo e molhar toda a roupa. Era engraçado como órgãos públicos pareciam sempre estar uma década atrasados. As divisórias brancas, os telefones fixos, as impressoras barulhentas. Taís achou até que tinha ouvido um fax. Gabriela se acomodou melhor no banco de espuma.

– Será que ainda vai demorar muito?

As meninas logo viram Paulina, ainda mais alterada que o normal, saindo do escritório acompanhanda de três policiais. Um homem fardado segurando cada um de seus braços, a forçando para o corredor. O terceiro policial, de terno, falava com voz mansa:

– Mas, senhora, eu já te expliquei, nós não podemos fazer mais nada.

– É assassinato! Agressão! Lei Maria da Penha! - Paulina era incapaz de manter o tom de voz baixo mesmo em dias comuns. - Vocês precisam me ajudar!

– A senhora já preencheu o B.O. Nem soube nos dizer um endereço ou a data. Nós prometemos fazer o que for possível.

– É minha filha!

– Com todo o respeito, minha senhora, o que você acha que ela pode ter feito para que ele tivesse que fazer isso?

– Que diferença isso faz? - interveio Taís, do outro lado da delegacia.

Os policiais soltaram Paulina no corredor.

– Tenha um bom dia, senhora. - disse o policial sem farda, ignorando Taís. - E que Deus a proteja.

– Pelo menos ele, né?

Paulina pegou as duas meninas pelo braço e as arrastou para fora do prédio. Gabriela sentiu as unhas da mulher enterradas em sua pele, seus batimentos cardíacos pulsando nos dedos.

– Esses homens nunca vão ajudar a gente.

Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.

Obrigada!

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Um comentário:

Bruna Karnauchovas disse...

Esse foi o capítulo que mais machucou, o que mais me identifiquei. Eles nunca vão nos ajudar. Nunca.