11.11.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 28

A fila para a montanha russa não estava tão longa. Umas vinte pessoas. Dava para entrar e sair do brinquedo quase imediatamente se você quisesse, se não tivesse vertigem ou labirintite demais.

– Será que é seguro? – disse Gabriela.

– A ideia foi sua de vir aqui. Agora precisamos ir.

Gabriela não sabia porque andava de montanha-russa. Morria de medo de altura, mas gostava da sensação do corpo rodando em velocidades muito altas dentro de um carrinho pouco seguro. A adrenalina era viciante. Mas ela só conseguia andar de olhos fechados, com a cabeça apoiada na trava, como se fosse o bastião de sua preservação.

– Come mais, Gabi. Aí a gente não tem que jogar fora.

Gabriela colheu um tufo de algodão doce. O doce ainda estava na metade enquanto as meninas esperavam na fila. Gabriela gostava de colocar a espuma cor de rosa na boca e esperar que ele derretesse devagar. Fazer isso com pressa tirava metade da graça do ritual.

– PODRE, SAAAAMIIII! Ela tá toda podreeee!

O casal cheirava a restos de refeições mal digeridas enquanto saía da montanha-russa. O garoto ia na frente com sua camiseta pingando a vômito e expressão de cansaço. Logo atrás dele, a menina completamente fora de si ainda limpava a própria boca e tentava acompanhar os passos largos do rapaz fugia de sua compainha.

– Tem razão, Gabi, acho que a montanha-russa tá podre.

Enjoada, Gabriela cogitou jogar fora o resto do algodão doce, por mais que não se classificasse exatamente como comida. Taís começou a indicar o caminho para fora do labirinto da fila. Talvez fosse melhor andar de carrinho bate-bate ou um brinquedo menos perigoso.

Gabriela sentiu a sombra se formar acima delas antes de ouvir o baque seco no chão.

– Mas nem é dia das bruxas…

Gabriela nunca tinha ido a um funeral. Taís só tinha visto cadáveres em filmes de terror. Mas, naquele momento, ambas tinhas certeza de que o braço quase sem carne com pele amarelada e descascada era terrivelmente real. O braço era quase do tamanho dos braços de cada uma delas. No dedo anelar, um anel de plástico barato pintado de prateado. Elas nunca se esqueceriam do cheiro.

Esse capítulo faz parte de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.

Adoraria saber sua opinião, então deixe um comentário me dizendo o que achou, divida com quem você acha que vai gostar e me cobre se eu parar de postar.

Obrigada!

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