30.9.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 5

Rodrigo chegou cedo ao cinema. Quarta fileira de trás para frente. No canto. Guardou o ingresso no bolso para jogar fora depois. Rodrigo já tinha tido uma coleção de ingressos de cinema. Dava para acompanhar todos os filmes pelas datas, cores e formatos diferentes. Agora elas eram todas iguais, papel amarelo de cartão de crédito e letras que vão sumindo com o tempo.

As luzes se apagaram. Aviso de emergência.

Rodrigo se aconchegou melhor à poltrona e apoiou os pés sobre a cadeira vazia à sua frente.

O filme já tinha começado quando o casal da frente chegou. O cheiro forte de damas da noite trazia lembranças das flores da escola e de Maria, que Rodrigo ia espiar toda semana no vestiário da piscina. Uma silhueta de gêmeos siameses em frente à tela. O estranho empurrou o pé de Rodrigo para fora do banco. Não houve sinais de arrependimento. Rodrigo decidiu que não valia a pena perder ainda mais tempo do filme discutindo. Acomodou-se melhor na cadeira.

Rodrigo adorava essa franquia. Era um reboot de uma série que ele assistia quando era criança. Praticamente o mesmo roteiro, com atores piores e efeitos especiais mais modernos.

As cabeças do casal da frente ficavam se mexendo e atrapalhando o filme. Olhando direito, só a cabeça dele se mexia. Para frente e para trás, para cima e para baixo. Ela estava quietinha, como se nem estivesse ali. O movimento ritmado se tornou mais irritante quando gemidos abafados começaram a acompanhar.

A alguns bancos a frente, Ligia se virou para ver de onde vinha o barulho. Ela tinha vindo ao cinema com Simone e Clarisse e agora as três estavam de costas em suas cadeiras e tentavam abafar risinhos.

Os ninjas da tela atravessavam uma nevasca, que iluminava toda a sala.

– Meu, olha a cara de tédio dela! - disse Simone, não se importando em manter a voz baixa.

Ela estava com a cabeça tombada levemente para a esquerda, a boca entre-aberta e o olhar perdido em algum lugar da neve da tela. Ela estava absolutamente estática, exceto pelo pulso que subia e descia sob os comandos do homem ao lado.

– E ela realmente precisa aprender a comprar base, né, amiga? - disse Clarisse.

– Esse cinza é cigarro. Quem fuma muito fica assim. - disse Ligia.

Ligia tinha uma tia que fumava quatro maços por dia. Ela tinha a pele meio esverdeada e tinha cheiro de gato morto. Ligia tinha muito medo de ficar verde algum dia.

Do outro lado do cinema, Dona Irene arrastava o neto pelo braço para fora do cinema.

– Mas eu quero acabar de ver os ninjas, vó! - disse Pedrinho.

– Não tem nada nesse cinema além de pouca vergonha. - disse Dona Irene.

As meninas passaram o resto da sessão dando risadinhas.

Rodrigo fez muito esforço para se concentrar no restante do filme e não na sua ereção.


Esse é o quinto capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar. 
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29.9.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 4

“…continuam as investigações sobre acusações de suposta violência sexual de advogado sobre ex-namorada…”

Gabriela tentava bloquear as mazelas do mundo vindas do noticiário com fotos bonitas dos seus amigos e das coisas que gostava na internet. O pai fazia questão de passar as poucas horas que estava em casa com a filha, mesmo que a maior parte desse tempo fosse absorvendo os raios catódicos de uma tela colorida.

– É meio exagero isso de cultura do estupro, não acha? Tem que ser muito doente pra se forçar em alguém assim.

A pior parte de ver TV era ouvir os comentários especializados do pai. Gabriela encolheu ainda mais as pernas para cima do sofá. Aproximou sua própria telinha mágica do rosto. Preferia saber da vida de quem estava mais perto.

Gisele está na praia. Beatriz comprou uns livros novos com capas bonitas. Mariana adora fotografar o próprio rosto. Olha o cachorrinho com chapeuzinho de mágico! Henrique foi naquela sorveteria cara. Ana não para de tirar foto com o namorado. Ana está usando cada vez mais maquiagem. Ana deve achar que fica mais bonita séria. Ana nem avisou que está com aliança de compromisso.

Ana esquece as amigas.
Esse é o quarto capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar.
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28.9.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 3


Bárbara ouviu a porta do restaurante abrir. Continuou passando o pano sobre a bancada, disfarçando preguiça com meticulosidade. Perfume forte de dama da noite invadiu o ambiente. Bárbara torceu o nariz. Olhou para cima.

Mesa para dois. Uma garrafinha de vidro verde com uma florzinha do campo branca no centro. O rapaz corpulento ajudava a namorada a sentar na cadeira de madeira com encosto de vime. Ele encostava nela com a delicadeza de quem tivesse medo que ela fosse quebrar.

Bárbara se aproximou do casal. Bom dia. Deu os cardápios. A cliente nem se dignou a pegar o seu. Olhando de perto, a moça estava uma bagunça. A maquiagem excessiva estava borrada nos cantos e seu cabelo estava oleoso e desarrumado. O perfume forte emanava dela.

– Já sabem o que vão pedir? – Bárbara bateu a caneta na borda da caderneta.

Ele pediu um bife à parmegiana para si mesmo – o melhor da casa, concordou Bárbara – faz com bastante queijo e bastante molho – e uma salada para a namorada.

– Mulheres – disse ele, com uma piscadela – sempre de dieta.

Bárbara esboçou um sorriso educado. A namorada se manteve imóvel, encarando um ponto fixo do outro lado do bistrô. Bárbara a olhou novamente. Ela realmente não parecia nada bem. Não entendia porque algumas pessoas insistiam em sair de casa mesmo tão doentes.


Esse é o terceiro capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar. 
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27.9.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 2

– Ela tem respondido suas mensagens? – perguntou Taís, balançando na única balança que ainda estava inteira no parquinho de concreto.

– Ela visualiza, – respondeu Gabriela, que checava as mensagens do celular com os cotovelos apoiados nas coxas – mas nunca responde.

Taís parou a balança com os pés. As duas garotas ficaram em silêncio por um momento. Ouvia-se apenas a música metálica do vento batendo nas correntes das balanças quebradas. O outro barulho, menos sonoro, vinha das notificações constantes do celular de Gabriela.

Gabriela quebrou o silêncio digital:

– É engraçado que ela atualiza tudo.

– Será que ela está brava com a gente? – Taís começou a cutucar a pele em volta das unhas com os dentes.

– Sei lá. Ela ficou bem puta quando a gente falou mal do namorado dela. – disse Gabriela, que não tirava os olhos do celular – Qual era o nome dele mesmo?

– Antonio, acho, mas ela não chamava ele disso. Chamava pelo sobrenome. Nunca vou lembrar.

– Ela deve é estar muito apaixonada. Só tira foto com ele. Nunca pensei que a Ana fosse dessas meninas que começa a namorar e esquece as amigas.

– Se ela não quer falar comigo, eu é que não vou falar ela.

Pela primeira vez durante a tarde quente, Gabriela guardou o telefone. Abraçou as pernas, o olhar estava longe, nos prédios além do parquinho, onde Taís, Gabriela e Ana moravam quando eram crianças. Ana tinha se mudado com os pais há alguns anos para uma casa maior e mais afastada, quando ganhou um irmão e um cachorro. Gabriela sempre quis um cachorro.

Naquela ocasião, Ana tinha levado as duas meninas para brincarem com Thor. O pastor alemão era grandão e carente, roçava na perna de quem estivesse por perto pedindo carinho. Mas nunca trazia de volta as bolinhas que as meninas jogavam. Ana adorava o cachorro.

Gabriela se levantou. Estava tarde, precisava voltar para casa.

– Espero que ela esteja feliz.

Esse é o segundo capítulo de Carregue meu Cadáver, o livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar. 
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26.9.16

Carregue meu Cadáver - Capítulo 1

O silêncio pesava no ambiente depois de tanto barulho. O cheiro de ferro, muito vivo, inundava a sala. Seu corpo, ainda quente, estava estirado no chão. A cabeça estava de encontro com a perna da mesa, de onde escorria a nascente de sangue quente, que aumentava aos pouquinhos a poça vermelha ao pé da mesa.

– Ainda bem que ela bateu a parte de trás da cabeça – ele disse, andando pela sala, enquanto desviava do líquido vermelho que esfriava. – Seu rosto é tão bonito.

Ela sabia, é claro. No fundo, bem no fundo, ela sempre soube. Os medos, as palpitações, a ansiedade. Tudo aquilo que se confundia com amor. Nunca deveria ter exigido tanto do namorado, era só o jeito dele. Deveria era ter escrito sua carta de suicídio.

Olhando bem, nem parecia estar morta. Bastava dar uma lavadinha, encher o buraco da cabeça na frente e atrás de algodão e pintar para dar uma corzinha. Igual os agentes funerários fazem. Ficaria perfeito. Nunca desconfiariam.

Esse é o primiro capítulo de um livro que estou escrevendo sobre relacionamentos abusivos. Vou postar um capítulo por dia até acabar. 
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