24.1.13

Eutanásia

Ganhamos nosso primeiro cachorrinho quando eu era bem pequena, uns 4, 5 anos. Era uma pastora alemã, filhote de cruzamento de pastor preto com pastor branco da vizinha. Absolutamente linda, meio brava, latia pra todo mundo de fora. Na primeira cria, alguns anos depois, ficou frágil e nos deixou. Mas ainda ficaram o Rover e a Nala, dessa gestação. Eu tinha uns 8 ou 9 anos. Eram os filhotes mais lindos do mundo.

O Rover era super carente. A gente não podia sentar pra ler no quintal que ele ficava horas pedindo carinho. Era super fofo ver um pastor alemão enorme e preto como ele, carente daquele jeito. A Nala era mais independente. Sempre foi. Não gostava de carinho. Não fazia cerimônia pra gente. Só gostava do meu pai. Nunca fomos muito próximas. Ela ficava rondando a casa, majestosa, preta e dourada, um pouquinho menor que o irmão.

O Rover morreu há uns anos atrás. Foi horrível, fizemos tudo que pudemos, mas não foi o suficiente. A Nala ficou bem mais triste depois disso. Adotamos outros cachorros pra fazer companhia a ela. Já tínhamos o Tom, mas ele era metido demais pra ficar lá fora com ela. Eram dois velhos juntos. Adotamos o Einstein, que não para quieto, e o Simba, que foi o melhor cachorro do mundo. Os dois são vira-latas, o Simba era maiorzinho. Finalmente me dei conta de como a Nala era grande.

A Nala ficou melhor, um pouco mais carente depois de velha, mas não muito. Engordou, ficou engraçadinha, virou filhote de novo. Morria de medo de trovão e fogos de artifício. Queria entrar em casa. Estragou todas as portas de casa tentando entrar em tempestades e jogos de futebol.

Seis meses atrás o Simba fugiu. Todos os cachorros ficaram tristes. A Nala ficou um pouco pior. Mais teimosa, queria ficar dentro de casa o tempo todo. Todos sabíamos que ela ia nos deixar em breve. Mas continuava ali, cada vez mais carente, coisa que ela nunca tinha sido antes. Ela começou a ter dificuldade pra levantar, tinha um machucado na perna que não sarava nunca, perdeu o controle da bixiga, fazia a maior sujeira dentro de casa.

Tínhamos que arrumar um companheirinho pra ela. Logo antes do Natal, meu irmão arrumou o Raí, o pitbullzinho mais lindo e alegre do mundo. Tentamos mostrar pra Nala, que estava cada vez com mais dificuldade de andar, mas ela não se animou muito.

De umas duas semanas pra cá, as patas de trás definitivamente cederam. Ficava parada no canto, tínhamos que empurrá-la para andar, chorava pedindo comida e água. Criou uma ferida enorme na lombar. Demos vitaminas e analgésicos, demos atenção e tudo que ela queria. Na chuva era bem pior. Ficava triste e visivelmente sentia mais dor. Pensamos em marcar uma eutanásia. Ninguém sabia se era melhor acabar logo com tudo ou se, por acaso, talvez ela melhorasse. Perguntamos pra veterinária como funcionava, mas ninguém teve coragem de marcar.

Parou de chover na semana passada. Ela ficou mais contente. Mais viva, latia em vez de gemer por comida. Brincava com as plantas da minha mãe. Interagia com o Raí e os outros cachorros, um pouco. Mas as feridas ficavam cada vez maiores, cheias de berne. Parou de andar de vez, se arrastava pela grama. Latia a noite inteira pedindo água, querendo atenção. Continuamos sem saber o que fazer. Coitada da Nala, mas parecia estar um pouco melhor.

Ontem de manhã dei comida e água pra ela. Ela tinha destruído o potinho de ração, a gente tinha que encaixar as coisas. Troquei a água dela. Fiquei morrendo de dó porque estava muito quente e o potinho de água, de metal, estava fervendo. Lavei o potinho, pus água nova. Fiz um pouco de carinho. Quando fui sair de casa, dei tchau pro Tom, pro Einstein, levei o Raí até o portão. Não passei por ela, que estava quietinha.

Quando voltei com a minha mãe algumas horas depois, ela estava coberta por moscas. Foi horrível. Ligamos na veterinária, que deu o telefone do crematório. R$200 pela cremação coletiva, R$480 a individual, onde nos devolveriam as cinzas. Eu não sei o que faria nem com as cinzas dos meus pais. Esperamos uma hora, ligamos pra todo mundo que não estava em casa. Meu pai que estava vindo do trabalho, meu irmão, em Minas, e entrei na internet pra falar com minha irmã, passeando em Nova Iorque.

A Nala nunca pareceu tão pequena, encolhida pelo sofrimento. Deu um certo alívio, na verdade. Estava de olhos fechados. Deve ter morrido dormindo. Que bom. Era o que todo mundo queria.

Quando o moço da funerária trouxe o saco branco pra colocar ela dentro, decidi não ver. Me escondi dentro de casa e comecei a chorar.

Nunca fomos muito próximas. Deu muita dor de cabeça no final, mas, depois de 16 anos (que ela faria em fevereiro), mesmo com mais três cachorros, a casa parece tão vazia.

22.1.13

Agridoce

Eu adoro o tumblr. Tenho algumas contas, mas o que eu mais gosto é do dashboard, que deixa todos os blogs que eu sigo organizadinhos. Nunca consegui usar um leitor de rss (parece até que isso já saiu de moda), mas o tumblr é tão fácil! Aprendi com a Emi e não consigo mais voltar atrás. E, lógico, lá tem blogs incríveis. Pensei, inclusive, em migrar meu blog pra lá, como a Lolla e a Aline fizeram, já que lá é mil vezes mais organizado e bonito que aqui, mas, sabem como é, força do hábito. Talvez quando eu tiver um felimpropano.com eu mude, só pra ser mais fácil.

Mas, parando de enrolar, encontrei um dos meus webcomics favoritos por lá. Não sei se se qualifica como webcomic, não sei o que qualifica um webcomic, mas é uma série de quadrinhos que são publicados na internet. O moço que faz (acho que é um moço) faz colagens bem simples com papel colorido e desenha por cima a caneta. A série chama Crimes Against Hugh's Manatees (bem por cima, crimes contra a humanidade), em que o Hugh em questão é um urso solitário. Há dramas, inclusive, de unicórnios, polvos, coelhos e esquilos. Todos eles com dilemas bem parecidos com os nossos.


O humor é ácido, chegando até a ser triste. Mas eu acho tudo isso lindo. Encontrei esse blog em um dia que eu estava especialmente desolada e essa foi a única coisa que fez eu me sentir melhor, por mais bizarro que isso possa parecer.










11.1.13

Como Organizar Bijuterias


Então eu decidi que para usar as coisas diferentes que eu tenho, é preciso vê-los. Todas as minhas bijuterias estavam amontoadas em uma caixinha, de modo que eu sempre usava o colar que estava em cima, repetindo-o com frequência. Minha irmã teve a idéia de comprar um chaveiro e pendurá-los na parede, de modo que parecesse uma loja. E, realmente, fica muito mais organizado.

No Natal viajei com a minha família pra Gramado e, em meio a chocolates e malhas, achamos uma lojinha de artesanato (acho que chamava Casa do Artesão, ao lado do Lago Negro) com o chaveiro perfeito:




Me perdoem a foto torta, ela foi tirada, como você podem ver, já pregada na porta do quarto com coisas penduradas. A parte de madeira tem uns 20cm e tem esses ganchinhos de metal, bons pra separar os colares por tipos. Então consegui separar os modelos de correntinha fininha dos de cordão e dos ~maxicolares~. Claro que os zilhões de crucifixos da adolescência ganharam um gancinho só pra eles, junto com o brasão de Hogwarts e um coração costurado da Emme.

Ficou assim:




Outra coisa que eu fiz foi arrumar os brincos. Antigamente eu prendia um brinco no outro pela tarrachinha para eles não se perderem, mas aí vieram as tarrachinhas de plástico/silicone e os brincos desses de pendurar e eu sempre perdia um tempão procurando o par na caixinha.

Eu já tinha pensado em recortar pedaços de papel cartão, por exemplo, pra prender os brincos, do jeito que eles ficam na loja (inclusive guardo os comprados mais recentemente desse jeito), mas aí tive uma inspiração genial:



Comprei esse brinco maravilhoso num dos bazares organizados pela minha turma da faculdade pra arrecadar dinheiro pros projetos de conclusão de curso. E ele veio assim, em um retângulo de EVA vermelho. Resolvi fazer igual.



Minha irmã estava jogando fora umas letras de EVA que tinham sido usados há muito tempo atrás num chá de lingerie e me deu pra eu usar. Por isso tá tudo torto e não, obviamente, porque não sei fazer nada direito.

Assim não perco mais o parzinho, principalmente porque tenho muito brinco pequeno. A caixinha de bijuteria fica mais cheia, mas acho que vale a pena. Inclusive fiz um para os brincos sem par:


9.1.13

50 Tons de Mau Gosto


Eu sei, eu sei. Todo mundo já falou sobre isso. Mas eu quero falar também.

Então eu estava estressada fazendo dois filmes ao mesmo tempo e, ainda por cima, escrevendo o projeto de mestrado, tinha acabado de ler Casual Vacancy (que é maravilhoso, depois faço um post só sobre ele) e eu, me desculpem, tive a oportunidade de ler 50 Tons de Cinza. Um livro idiota. Perfeito.

Minha intenção era a de salvar a história, confesso. Dizer que não era tão ruim, que me identifiquei com Anastassia Steele, que há lições de vida e de relacionamentos no livro. Mas não, não há. As únicas coisas que eu aprendi foram que eu divido fantasias sexuais com uma senhora de meia-idade (fazer sexo com um cara podre de rico) e que eu escrevo bem pra caralho.

Enquanto eu estava lendo, fui fazendo uma listinha com algumas dicas do que não fazer contando uma história e, como todo mundo que tem blog ou lê blog é aspirante a escritor, achei legal compartilhar. Bora lá:

1. Stephan King disse uma vez que a estrada para o inferno é pavimentada com advérbios. Absolutamente, completamente, docemente, desnecessariamente. Isso vale também para conjunções adverbiais, por exemplo: “disse de maneira sensual” e, meu preferido do livro inteiro: “com um olhar de como quem diz: ‘não seja ridícula’”.
2. Essa é consequência do item 1, mas vale contar porque é um erro comum, sempre leio autores bons dizendo pra não fazer isso e era uma coisa que eu fazia quando achava que escrevia muito bem, obrigada, aos 15 anos: não descreva a forma como se fala. Até a J K Rowling aprendeu a não fazer isso mais. Sussurou, gritou, disse com voz doce, ordenou, e (só consigo pensar do Marcelinho quando leio isso) urrou. Urrou ¬¬ Pontuação e contexto provavelmente darão conta de explicar o tom de voz dos personagens. Se precisar muito dizer que o personagem gritou, fique à vontade, mas tudo menos “ordenou docemente”. Estou até agora tentando entender que porra quer dizer “ordenou docemente”.
3.Ao se falar de partes íntimas, use a palavra mesmo, nada de “ele encostou ali” (em itálico, durante as quase 400 páginas do livro). Quantos anos você tem, pelo amor de Deus? Parece eu, na escola, falando do “voluminho” dos meninos.
4. E esse é o contrário do anterior. Não descreva exatamente o que as pessoas estão fazendo durante o sexo. Isso não dá tesão, dá nojo. Fica parecendo os contos do Marcelinho. Ou, sei lá, eu que sou fresca e prefiro ler as sensações aos atos mesmo.
5. Não repita frases feitas. A E L James parece que repete mais, quanto pior a expressão. Essa do “um olhar como quem diz ‘não seja ridícula’” aparece várias vezes. A calça de feltro (Christian Grey, um hippie) caída “daquele jeito na cintura”, seja lá o que isso queira dizer. Além da marca registrada do livro (que até virou piada entre meus amigos que nem leram o livro): “Está com fome? Não de comida”.
 6. Não sei vocês, mas acho bem mais legal ler um livro que tem uma história e no meio dela tem cenas de sexo do que o contrário. 50 Tons tenta ter uma historinha, mas os personagens não a sustentam. O primeiro beijo do casal só vem lá pela página 100, quando você não aguenta mais se perguntar por onde anda aquele sexo todo que as editoras venderam porque, francamente, foi pra isso que eu comecei a ler e realmente não me importo pela vida mal desenvolvida dos personagens planos e chatos.
7. "Intumescer" é a palavra mais feia da língua portuguesa. 
Acho que quando a gente critica alguma coisa, a gente tem que ter argumentos de porque não gosta. (“Enlatado norte-americano” não é um argumento bom o suficiente.) Nem acho que a história da menina virgem de 21 anos que se apaixona perdidamente por um milionário sadomaso seja lá tão ruim. Provavelmente um escritor melhor conseguiria contar essa história direito, deixando sexy de verdade, sem clichês absurdos (“Eu não faço amor. Eu fodo. Com força.”). De qualquer forma, pelo menos o primeiro livro, vai agradar apenas dois tipos de pessoas: as que não lêem ou as que não fazem sexo.

2.1.13

Automutilação

Gosto de pintar as unhas em casa. Não sou a melhor manicure do mundo, mas pelo menos não gasto dinheiro com o serviço de outra pessoa que faria os mesmos erros que eu. E eu tiro as cutículas. Todos os blogs de beleza e revistas de moda e até minha mãe me dizem que eu não deveria tirar as cutículas. Elas protegem as unhas de infecções, não deixando as bactérias entrarem. Além disso, se eu tirar a cutícula, ela volta maior e mais grossa, como um sistema de defesa do corpo. Influsive é por isso que não é aconselhável lixar a pele morta dos pés, a pele só vai voltar mais grossa e mais áspera. O jeito é hidratar: a cutícula, o pé e o cotovelo.

Comprei mil creminhos para os dedos. O pé não me incomoda muito, nem o cotovelo. Um tônico mágico da Avon que diminui a cutícula, uma beleza. Funciona mesmo, mas tem que passar todo dia. Uma cerinha maravilhosa da Granado que, além de tudo, tem um cheirinho gostoso. Mas tem que passar duas vezes ao dia. Aí a pele morta desaparece, as beiradinhas grossas dos cantinhos das unhas ficam macias, os fiapinhos de pele cortada nem aparecem tanto. Mas em meia hora a pele seca. De qualquer jeito, odeio a sensação de mãos pegajosas. Melam o teclado do computador, a telinha do celular, fica difícil manusear as chaves, separar o dinheiro e abrir sacolinhas plásticas e virar páginas de livros se tornam tarefas quase impossíveis.

Minhas cutículas vivem ressecadas. E eu, perfeccionista que sou (apesar de nunca conseguir terminar nada), teimo em levar aquele alicate cego à pele morte. Estes são os dias bons. Alicate deixa tudo certinho. Quando estou longe dele, puxo a pele com as outras unhas, com os dentes. Não consigo me conter. Faço isso quando estou entediada e sem o que fazer com as mãos, no ônibus, em palestras e aulas, vendo TV.

Gosto de ocupar as mãos enquanto preciso pestar atenção em alguma coisa. Fazer duas coisas ao mesmo tempo, principalmente se a segunda ação for completamente automática e livre de pensamento, faz com que a segunda se faça com mais atenção. Me disperso com facilidade. Sempre tive que tomar notas em aulas, senão acabava presa em um delírio qualquer por horas a fio. Acontece a mesma coisa conversando com pessoas, preciso me policiar o tempo todo. E, nessas, arranco pedacinhos da pele das pontinhas dos dedos.

Costumava roer as unhas quando era mais nova. Pegue nojo do pozinho que se acumulava embaixo e parei. Aí comecei o novo vício. Quando comecei a realmente cuidar dos dedos, com todos os produtinhos de que falei mais cedo, comecei a arrancar cabelo e pele do couro cabeludo. Fiquei com medo de que o cabelo começasse a cair. Realmente gosto do meu cabelo. É dourado e ondulado e todo mundo acha bonito. Não quero que ele caia. Voltei a comer a cutícula.