23.4.11

Futebol

Uma das coisas que eu acho mais fascinante no universo masculino é a atitude em relação ao futebol. Claro que não se trata exclusivamente de um problema do sexo oposto, mas eu conheço um número significativamente maior de homens apaixonados por esporte que mulheres. Os motivos sociológicos disso me ultrapassam, mas isso não importa, não por enquanto. Parece que o esporte é para os homens o que a moda é para as mulheres (salvos as devidas proporções): ambos são de uma importância intangível para o outro.

Me espanto com discussões calorosas em mesas de bar ou mesmo em sofás domésticos sobre as posições dos jogadores em campo, as mesas redondas no rádio e na televisão, a quantidade de programas dedicadas exclusivamente a isso em todos os canais de televisão aberta, os canais inteiros na tv fechada apenas sobre este único assunto. Me impressiona a ferocidade dos assuntos comentados, as certezas absolutas, o tempo e, principalmente, o dinheiro dedicado a isso. Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão.

O melhor, na verdade, é o descaso dos jogadores, técnicos, presidentes de clubes em relação ao próprio time. Os jogadores mudam a cada ano, indo para onde lhes pagam mais, como se fosse só outro emprego, escalações para clubes maiores, mais importantes e, claro, com salários mais formosos. Paixão é pelo lado dos torcedores, pelos comentaristas incansáveis. Torcem por um brasão, apenas por um símbolo, enquanto carregam todo o sofrimento de uma equipe inteira nas costas.

3 comentários:

Tiago de Mello disse...

Tenho pensado que o futebol passa um pouco como sentimento de pertencimento, como catarse. Ontem fui na balada, e as pessoas corriam para a pista para dançar, emocionadas, músicas que nunca ouvi na vida. E aquilo era a vida delas! falei com meu amigo, que não se liga nos esportes "imagina você no jogo do timão, é tipo eu nessa balada". é algo que sem essa catarse não funciona!

acho importante ser corinthiano como posição política no mundo, mostrando de onde eu vim, como tenho levado as coisas. embora seja muito pouco, é uma coisa normal, pelo menos no brasil...

carlos massari disse...

"Tudo isso faz parecer que futebol, em especial, é o assunto mais importante do mundo. Supera a política externa norte-americana, as crises politico-sociais dos países árabes, a economia brasileira e todos os desastres naturais do Japão."

e é mesmo. pelo menos aqui no brasil. nos eua, é o futebol americano. na índia, é o cricket. e assim por diante.

Pedro disse...

É muito interessante o paralelo que você faz entre moda e futebol. Curiosamente, o "mundo da moda" criado no século XIX se baseava na premissa de que, como as mulheres seriam seres intelectualmente mais frágeis que os homens, cabia a estes vesti-las de forma apropriada. Com a autonomização da moda em relação a este valor inicial, a relação não fica mais presente para nós ao ponto de haver a inversão: a moda se tornou um domínio puramente feminino (apesar da grande quantidade de estilistas masculinos).

O futebol, por sua vez, era um esporte de homens nobres e, quando aportou no Brasil, da elite. Jogadores negro, só após a década de 1940. Profissionalização do atleta, apenas a partir da década de 1970. É justamente com o início do processo de profissionalização que os valores--um espaço puramente masculino, a expressão lúdica da virilidade do homem--são forjados. Nos EUA, porém, apesar do mesmo esforço, o esporte foi sendo associado às mulheres--como ainda é até hoje. Masculinidades e femilinidades são forjados historicamente para tentar dar conta dos papeis atribuídos aos gêneros. Não é à-toa que hoje o futebol é visto como "o porto seguro" do homem macho em um mar de "pós-modernidade sexual". (É só compartilhar das ironias das colunas do Xico Sá, por exemplo.)

Se pensarmos bem, a compra e venda de jogadores segue as mesmas regras que a compra e venda de bananas. A magia que está ao redor disso é baseada em características externas a transação: a qualidade do cabeceio do jogador, a habilidade do passe... Coisas incomensuráveis. Os valores, então, são ilógicos. De onde vem, de fato, essa magia? Seria, como você disse, a paixão de um grupo de pessoas que dá sentido a estas práticas? O que caracteriza um time hoje: os componentes da sua esquadra ou as pessoas que os seguem? Nós consumimos os símbolos porque acreditamos neles ou acreditamos nos símbolos porque os consumimos? Enfim, acho que me empolguei...