23.5.10

catarse/caverna

o ônibus deveria ter saído há 5 minutos. eu tenho um só cd no ipod que já ouvi vezes demais. estou sem disposição para ler os dois livros teóricos que estão na bolsa. tem gente demais no ônibus. conversando. tem crianças demais no ônibus. conversando, gritando e chorando. tudo agudo demais. elas são feias demais, parecem todas bonecas mal-feitas de cerâmica barata ou adultos que não cresceram o suficiente. odeio crianças. de verdade. são incompletas e incorruptas pelo mundo. ou são corruptas demais, escondendo consumismo aceletado atrás de ingenuidade. queria trancar as trompas para não correr o risco de ter meus próprios filhos. meus filhos são meus projetos. todos eles, que insistem em não sair do papel. por falta de tempo, de dinheiro, de esforço, de vontade. queria ter idéias mais fáceis de serem executadas. um gramado. um casal. falando sobre amor e sobre outros temas fundamentais. singelo. simples. absolutamente sem graça.
se eu tivesse continuado a desenhar desde os 9 anos, se eu ouvisse as recomentações da família inteira e nunca parasse de desenhar, eu poderia ter desenvolvido habilidades manuais melhores e fazer minhas próprias animações sozinha, sem depender da porra da disponibilidade de ninguém. minha cabeça tá doendo de tanto chorar. não aguento mais adiar as coisas por falta de tempo - alheia.

17.5.10

era uma cidade de monstros. monstros grandes e fofos como aqueles que encontramos em desenhos animados japoneses ou em lojas de brinquedos. apesar das aparências, os monstros detestavam-se e cometiam maldades uns contra os outros frequentemente, destruindo a cidade enquanto se auto-destruíam (já que é impossível destruir alguma outra coisa, principalmente um par, sem se destruir pelo menos um pouquinho a si próprio).

um dia, no entanto, apareceu uma besta feroz na cidade. azul petróleo com gigantescos espinhos seguindo em fila indiana de sua cabeça até a ponta de sua grossa cauda. observando todo aquele ódio e toda aquela destruição, o monstro azul petróleo decidiu que precisava fazer alguma coisa, sendo ele, por definição, o monstro do amor.

saiu pela cidade fincando seus espinhos nas costas de todos os monstros que via pela frente, a fim de espalhar o amor pela cidade. algumas criaturas sentiam-se tocadas pelo veneno do inimigo horrendo e começavam a amar furiosamente a todos os monstros ao redor.

outros, no entanto, ficaram bastante irritados com a atitude intrometida do novato da cidade. como ousava ele impôr o amor sobre as pessoas? levantaram um motim e, todos juntos, concordaram em expulsar o pior dos monstros da cidade.

enquanto voava baixo pelo portão da cidade, o monstro do amor ria baixinho, para si mesmo, feliz em ter cumprido sua função.

11.5.10

sempre imagino que no fim dos tempos, quando tudo for destruído, as construções derrubadas, que todos os objetos perdidos serão encontrados. ou serão perdidos para sempre, dentro dos escombros, e pouco importarão mais.

3.5.10

Alice

Quando o seu diretor favorito pega o livro que você sempre quis adaptar e o transforma numa saladona de clichês americanos, sente-se um pedacinho de você morrer.

Talvez isso seja pessoal demais. Mas eu me sinto traída.