9.11.08

Nightwish


08.11.08

Sai de casa, em Campinas, às 15h, com o meu allstar velho, meias confortáveis, calça jeans recém-costurada pela mãe, camisa do Nightwish preta desbotada, comprada no início de 2006, e uma simpática e brega pochete rosa minúscula - que carregava meus itens de sobrevivência: celular, dinheiro, documentos, óculos escuros e lixa de unha. Todas as minhas roupas eram velhas e confortáveis. Não levei MP3 ou câmera para o risco de ser assaltada. Esqueci da água e das balinhas. Seriam longas 3 horas e absolutamente nada para fazer.

Cheguei no Via Funchal às 17h. As portas abririam às 20h. Pedi para o meu paitorista me deixar na porta, que eu voltaria andando até o final da fila. Queria ver as pessoas estranhas, ver as roupas diferentes e tentar achar conhecidos. Vi um menino com quem nunca conversei que estudava na minha escola. Pensei em cumprimentar. Seria estranho. Desisti. Dei a volta na esquina. A fila estava menor do que eu imaginei que estaria. Na minha frente, um garoto que veio sozinho. Atrás de mim, uma garota sozinha, trazida pelos avós. Tentei puxar conversa. Nenhum dos dois falavam muito. As pessoas não paravam de chegar. A fila deve ter dado outra volta na esquina. Não me preocupei em olhar. Me distraí vendo o que os vendedores ambulantes vendiam: camisetas, bótons, fotos dos integrantes (e ex-integrantes) da banda impressos em papéis cintilantes, faixas, bandanas, munhequeiras, adesivos. Tudo do Nightwish. Algumas coisinhas de outras bandas. Tudo a um preço astronômico, menos as camisetas. Haviam vendedores de bebidas: água, refri, cerveja, vodka, cachaça e um vinho que eu jamais tocaria. Parecia suco de uva. Talvez fosse álcool com corante. Havia uma menina cantando pelo seu ingresso. Ela cantava e, se a gente gostasse, podia dar dinheiro. Ela cantava muito bem. Tinha um cover do Within Temptation. Eu dei os R$4,00 que eu tinha de trocado para ela. Acho que conseguiu entrar.

O legal de estar sozinha nesse tipo de lugar é poder colocar seus óculos escuros e obsrevar o que os outros estão fazendo. Algumas pessoas trouxeram baralho, comum e de uno. Muita gente ouvia músicas da banda no precário som do celular. Eu ouvi as conversas de todo mundo ao meu redor. Descobri números de shows anteriores e o que muita gente achava de muita coisa. Meninas com vestidos medievais entregavam flyers de milhares de baladas góticas em São Paulo. Acabei comprando uma camiseta. Consegui enrolá-la e colocá-la dentro da pochete. Eu deveria ganhar um prêmio por isso.

Mas a melhor parte é ver as roupas. Adoro shows de metal por isso. Em eventos sociais e, principalmente, musicais, algumas pessoas usam toda a sua criatividade para se vestir de modo que todo mundo perceba. Era tanta gente de preto, tanta menina com vestidos esvoaçantes, cheios de rendinhas e lacinhos, saias curtas demais, meia arrastão e bota/coturno de cano alto, homens de kilt e sobretudo, que quando aparecia alguém normal, vestido de azul claro e tênis, eu tinha certeza que não estava indo para o mesmo lugar que eu. Olhar roupas fez o tempo passar bem mais rápido. Numerar os mais "bem-vestidos" da noite me divertiu bastante também. (In)felizmente, não havia tantas gordonas sem noção de espartilho. Eu ainda lanço um curso ensinando mulheres com muito peito a usar os sutiãs corretos. Acho que ninguém nunca ouviu falar em bojo. Ou devem gastar todo o dinheiro em roupas góticas e não sobra nada para um bom sutiã. Eu cogitei ir com o meu vestido esvoaçante antes de sair de casa (sim, eu tenho um. usei só uma vez. foi num show de metal. estou procurando oportunidades para usá-lo de novo.), mas achei melhor não, eu acabaria me preocupando mais com o vestido do que com os músicos no palco. Apesar de tudo, algumas meninas estavam muito bonitas com suas roupas góticas. Alguns caras também.

Quando deu umas 20h, já estava escuro, as pessoas do fã-clube ao qual pertenço foram procurando outras pessoas do fã-clube. Reconheci depois que passaram e sai correndo atrás deles, perdi uns 20 metros de fila, mas fiz uma amiga. Uma gracinha, que tinha vindo no dia anterior e tava me contando da chuva, da pouca gente, de como tirou as fotos, de como a segurança não pegava as câmeras de ninguém.

A casa abriu, deixaram as meninas entrarem primeiro. Ganhei toda a fila que eu tinha acabado de perder. Me arrependi de ter comprado minha camiseta do lado de fora. Os produtos oficiais eram muito mais bonitos e estavam baratos. Quase comprei outra camiseta ou uma bandeira, mas me contive. Eu nunca tinha ido ao Via Funchal. Adorei a casa. Tudo é lindo. Tem uns lustres que parecem velas e tem degrauzinhos para pessoas baixinhas. Lá dentro encontrei um amigo meu que eu nem pensei que viria.

A banda de abertura era ruim. Não era muito ruim. Era só ruim. Ruim e deprimente, com letras do tipo “o amor é só uma história que eu conto pra você dormir”. A música também era barulhenta demais, não tinha muita coerência. E o vocalista tinha a voz do Felipe Dylon sem sotaque. As únicas coisas que se salvavam eram que todos os integrantes do Libra são bonitos – principalmente o vocalista – e se vestiam bem, nada exagerado.

Mas depois veio o Nightwish. E eu nem me importei mais com as cabeças na minha frente, com as pessoas na minha volta, com a banda anterior ruim ou com as três horas de espera. O som estava perfeito. Dava pra ouvir claramente a voz da Anette e do Marco por cima dos instrumentos (quando eu mesma não estava gritando) e, pasme!, dava para ouvir o baixo! Eu nem ouvia o baixo do Nightwish no som de casa quando eu apertava o botão de ouvir o baixo! Foi incrível, de verdade. As luzes estavam lindas e bem utilizadas. Tudo estava lindo. Eu vi o teclado do Tuomas com o Edward Mãos-de-Tesoura amarrado, vi a bateria com tudo duplo do Jukka, vi a guitarra roxa do Emppu, vi o Marco (ah, o Marco...) e a Anette de verdade! Com os meus próprios olhos! Apesar da multidão de cabeças e braços e máquinas fotográficas e celulares na minha frente. Todas as músicas ficam melhores ao vivo. Eu até gostei de Wishmaster na voz da Anette. E tocaram Dark Chest of Wonders (que eu só reconheci quando chegou no refrão, olha que tr00 que eu sou) e The Islander e Ever Dream! Foi mágico. Eu não acredito até agora.

Houve imprevistos é claro, como dois gordões sem camisa gritando furiosamente pela Tarja (ex-vocalista, deusa suprema com a melhor voz do mundo que todo mundo adora) e ofendendo a Anette gratuitamente. E eles estavam bem do meu lado! Eu saí de lá, é claro. Eu sabia que isso aconteceria, mas eu ainda fico furiosa ao saber que, dois anos depois da expulsão de um integrante, alguns fãs conseguem gastar 120 reais para xingar alguém! Sabendo que isso NÃO VAI mudar a atual configuração da banda. Que ódio!

Além disso, meu namorado me ligou no meio do show. Eu deixei ele ouvir a música/barulho por algum tempo e depois desliguei. Saindo, eu liguei pra ele e descobri que ele não tinha nada pra falar, só queria ouvir a música mesmo. Own. Vem comigo da próxima vez, oras.

Em geral, foi ótimo. Mas, não sei, acho que eu vejo vídeos no youtube demais e fiquei comparando com os shows na Europa, com foguinho e tal. Acabei criando expectativas demais e nada realmente me surpreendeu ou me causou calafrios. É uma droga conhecer demais a banda, tanto ao ponto de criticá-los.

Acabou bem mais cedo do que eu imaginava, era 23h40 quando eu liguei pedindo pro meu pai me buscar. E eu precisava desesperadamente de uma água. Nem fui ver a gift-shop direito. Provavelmente eu não compraria nada, mesmo. Na rua tinham carrinhos de cachorro quente e um monte de vendedores de água, refri e cerveja. O paraíso pra quem não comeu ou bebeu nada desde a hora do almoço. Ouvi mais comentários no trailer de cachorro-quente e um carinha passou distribuindo bótons da banda de abertura, que eles fizeram para divulgação. Apesar de serem bem ruins, o símbolo deles é bonito (uma cruz gótica branca num fundo preto), então eu peguei um pra mim e pros meus irmãos (porque eles pediram lembrancinhas). Meu pai chegou e me ligou junto com o cachorro-quente. Então eu fiz a pobre mulher segurar meu trocado por muito tempo enquanto eu, temporariamente mais surda que o normal, tentava me comunicar o papai.

Dormi durante toda a viagem de volta. Cheguei em casa destruída, suja, meu cabelo mega desgrenhado e minha maquiagem borrada. Nem tomei banho. Isso fica para os dias normais.

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