15.9.08

O clube dos solitários

O Clube dos Solitários era, antes de mais nada, um lugar triste. O nome fora inspirado num álbum dos Beatles. Infelizmente, a idealizadora esqueceu-se de copiar do álbum as cores brilhantes ou a psicodelia. Isso se valia pelo fato de o nome ter vindo depois da criação do clube. as reuniões occoriam sempre, na mesma hora e na mesma casa desde a fundação da cidade. Era uma espécie de AA, mas cuidava de assuntos muito mais sérios, que existiam desde que as pessoas começaram a notar-se umas às outras: os amores não-correspondidos.

Os tipos que freqüentavam o clube eram vários: senhoras que ficaram para titia, mulheres que compartilhavam seus maridos, alguns homens, adolescentes - daqueles que iam e vinham numa freqüência de dois ou três meses e daqueles que ficavam durantes toda a duração do ensino médio - e havia eu.

Antigamente, era só uma casa onde mulheres se reuniam para discutir seus corações calejados, sem muitas pretenções. Hoje, no entanto, o clube funcionava como qualquer grupo de auto-ajuda: falava quem queria - seguido dos aplausos claustrofóbicos de sempre.

Os relatos contados eram sempre tristes e desesperançosos, como se o corações de cada um ali estivesse fechado numa caixa de vidro em que uma única pessoa possuísse a chave e esta pessoa havia morrido, antes tendo engolido a chave, há milhares de anos, então seria impossível recuperá-la do meio da carcassa podre.

Eu nunca falava. Meu objetivo nesse lugar era um pouco mais sádico: eu gostava de ouvir, saber que havia histórias piores que a minha. E havia. Sempre havia. Mas quando eu ficava sozinha à noite, apenas com a televisão como companhia, o meu caso parecia o mais desolado e sem solução.

O fato era que, embora eu me sentisse sozinha à noite, nos outros momentos do dia eu ficava perfeitamente feliz, independente. Eu não sentia a falta de alguém especial porque essa pessoa nunca havia existia. Eu nunca havia tido um cado de amor por mais de uma semana e, por isso, eu precisava tanto do clube.

Eu era, na realidade, viciada em amores não correspondidos.


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este era o argumento para um curta que eu estava escrevendo. entre outras coisas, ele mostraria como as pessoas são filhos da puta. o problema é que eu descobri que algumas pessoas são filhos da puta demais para merecerem um filme tão bonito.

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