31.10.07

Eu tive meu momento Alex Delarge hoje. Meu professor de história passou um filme sobre a ascensão de Hitler e, numa cena onde os alemães estavam felizes com o Führer, começou a tocar Primavera do Vivaldi. Quase comecei a gritar que aquilo era um pecado.

26.10.07

A Estranha História dos Carneiros


Todo mundo tem uma história estranha envolvendo animais de fazenda. Não, não esse tipo de história, seu pervertido. Pelo menos não aqui. ainda.

Durante a maior parte da minha infância, minha tia teve uma fazenda. No início era uma fazenda mesmo, com animais, pomar e toda aquela pompa toda. Ao passar do tempo, ele foi se tornando um minifúndio improdutivo - mas isso não vem ao caso. Era bem longe da minha casa (18 horas de ônibus), mas meus irmãos e eu íamos para lá em praticamente todas as férias porque tínhamos primos da nossa idade por lá.

Uma das primeiras vezes que fomos para lá, quando a fazenda era recém-comprada e havia bichos e muuuito mato, minha prima, Julia, minha irmã, Rebecca, e eu resolvemos explorar o terreno. Observação: éramos todas bem pequenas na época. Eu e minha prima devíamos ter lá nossos 6 anos e minha irmã, 8. Assim, o terreno ficou ainda mais gigante, o mato ainda mais alto e os bichos ainda mais selvagens. Não sei de quem foi a brilhante idéia de nos contar que carneiros eram perigosos. Então tínhamos por objetivo principal evitá-los.

Acontece que, àlguma altura do nosso passeio, os carneiros nos alcançaram. Ó! Bestas Peludas do Inferno com seus chifres em forma de caracol! Imagens do Bode em pessoa (no caso, em animal)! Vimos-os lá longe andando uns atrás dos outros, seus olhos aguados famintos por carne de crianças perdidas.

Então, logicamente, saímos correndo o mais rápido que pudemos. E era difícil correr lá porque o chão era irregular e tinha muito mato. E de repente, não mais que de repente, aconteceu o inevitável: Rebecca tropeçou e ficou enroscada em alguma coisa no chão.

Julia e eu continuamos correndo. Caída, Rebecca clamava por ajuda, chorando copiosamente. Os carneiros chegavam cada vez mais perto. Mutilada entre compaixão pela minha irmãzinha querida e minha própria vida, exclamei:

- Julia! Temos que salvar a Rebecca!

Neste momento minha prima me olhou muito séria e disse:

- Ela já está perdida, Deborah. Temos que tentar nos salvar agora.

Não lembro o que ocorreu em seguinte. Se algum adulto foi nos salvar ou se a Rebecca conseguiu se desenroscar sozinha e voltamos sãs e salvas. Mas carneiros me aterrorizaram durante muito tempo depois disso.

Observação que pode não ter muita relevância para a compreensão do texto (ou toda, dependendo do seu ponto de vista): hoje minha prima está no segundo ano de direito. Mas ela é boa pessoa. Juro.

19.10.07

Mulher de fases



Eu passei por taaaantas fases musicais que acho que posso criticar todas, porque gostei de quase todos os estilos.

Quando eu comecei a me considerar gente, eu ouvia Spice Girls (aliás, vocês viram que elas voltaram? Pô, se conseguirem trazê-las pro Brasil, eu vou no show com certeza). Eu tive os dois primeiros CDs e amava. Eu nunca fui uma Spice Girl numa bandinha de criança, porque minhas amigas não gostavam (Na época eu tinha só uma amiga, então nem dava pra montar a bandinha, nem se eu quisesse. Mas a minha irmã era a Baby Spice na bandinha dela, que tinha 7 meninas em vez de 5). Ah, claro, Spice Girls era coisa do demônio no colégio evangélico porque elas dançavam "peladas" atrás de uma cadeira em uma música (Naked, lembram??) e tinham altas mensagens subliminares sobre sexo no meio das músicas (ouvindo hoje eu fico estarrecida, mas isso eu nem percebia porque tinha um coração puro). Depois eu dei o CD, quando cansei delas. Não acredito até hoje que fiz isso. O meu único consolo é que dei para uma amiga da filha da minha empregada (grande amiga, por sinal), então ela deve ter ficado feliz.

Depois delas, eu tive minha fase POP/MTV e eu ouvia tudo que a mídia lançava. Backstreet Boys (tenho 2 CDs) primeiro, depois NSync (2 CDs também)(aliás, o Justin Timberlake era bem mais legal no NSync do que é hoje), Britney Spears na época que ela ainda era virgem (2 CDs), Christina Aguilera antes de virar putona (2 CDs) (Inclusive eu fui num minishow dela de 25 minutos quando ela veio pro Brasil lá por 99. Foi meu primeiro show. Não revelamos as fotos até hoje.), Five (2 CDs) (pra quem não lembra, Five foi uma tentativa mais ou menos frustrada de recriar as Spice Girls numa boy band. Não era tão legal e só um deles era lindo. As músicas eram todas iguais e tinham altas mensagens subliminares sobre sexo. Escabroso.) e até umas bandas menores que eu curtia porque passava na MTV, mas eu não tinha CDs, como Westlife (quem?). E Hanson, claro, não podia faltar (2 CDs). A grande vantagem dessa época é que minha mãe trabalhava muito e ganhava horrores, então era possível comprar todos os CDs (inclusive as trilhas sonoras de todos os filmes da Disney e dos outros desenhos animados da época). Era uma boa época. Eu me achava o máximo porque tinha os CDs que todo mundo queria. Observação básica: eu tinha, inclusive, um CD que a Mattel lançou que era da banda da Barbie, um tal de Beyond Pink, com a capa rosa choque. Eu, minha irmã e a filha da minha empregada tínhamos as três barbies da banda (a minha está até hoje na minha estante - ela brilha no escuro!). Não me zoem, vocês gostavam de É o Tchan que eu sei!

Aí eu me mudei de São Paulo e vim pra Campinas e, aos poucos, ouvir pop não era mais tão pop. Aí eu comecei a ouvir punk rock (isso foi com uns 12 anos), com Blink 182 (2 CDs, um original - que é uma bosta - e outro copiado - que era legalzinho e meu irmão perdeu emprestando para alguém. Pessoalmente, eu prefiro a fase emo do Blink, é mais sonoro) e Avril Lavigne (1 CD - depois me dei conta de que era uma bosta - isso é uma mancha negra no meu histórico musical, mas pelo menos me dá autoridade de odiar muito a Avril hoje).

Mas a fase punk rock durou pouco. Até eu conhecer um amiguinho que curtia metal na oitava série e eu comecei minha fase de odiar tudo que todo mundo adorava. O problema era que era meio difícil conhecer bandas alternativas sem baixar músicas nem comprar CDs (agora minha mãe não ganhava mais horrores, nem nunca mais voltou a ganhar, e os CDs começavam a ficar muito caros), aí eu ouvia o metal que todo mundo ouvia, como Angra, Iron Maiden e Metallica e bandas que eu ouvia na extinta Rádio Rock (bons tempos...). Isso firmou minhas bases pra ouvir majoritariamente bandas de metal estranho de países eslavos que ouço hoje. Mas até o fim do ano passado eu realmente me forçava a odiar MUITO tudo o que todo mundo ouvia.

Hoje eu sou mais livre, leve e solta e ouço tudo o que eu gosto, passando desde música clássica até Pussycat Dolls (mas eu me nego a ouvir Don´tcha, não porque foi muito pop, mas pq é podre, mesmo).

Ah, eu tive minhas fases de funk e axé, da época que eu ia em festinhas (gente! eu era convidada para festas!!) e sabia as coreografias. Isso durou pouco, da 7ª série até o 1º colegial, que foi a minha fase não tão antisocial na escola. Explosão Chacaboom (como escreve essa bagaça??) e Elas Estão Descontroladas ("Ah! Que isso? Elas estão Descontroladas!") marcaram muito. Até o dia que eu fui num axé com uma amiga minha e ela me abandonou pra ficar com um cara, o som tava ruim e eu fiquei traumatizada para sempre.

Além, claro, da fase Mamonas Assassinas que acho que todo mundo teve. Mas eu só ouvia quando os meus primos de Recife estavam aqui (ou seja, quase nunca), porque minha mãe nem minha escola deixavam, por motivos óbvios. "Mãe, o que é uma suruba?" Tinha certeza que era uma espécie de massa.

10.10.07

Quando a gente se abraça no escuro, não faz a escuridão sumir. As coisas ruins continuam ali. Os pesadelos continuam à solta.

Quando a gente se abraça, não se sente seguro, mas se sente melhor. "Está tudo bem", sussurramos. "Estou aqui. Eu te amo." e mentimos: "Nunca vou te abandonar".

Só por um ou dois instantes, parece que a escuridão não é tão ruim. Quando a gente se abraça.


- Niel Gaiman, Me Abraça

2.10.07

Os textos se escrevem. O escritor os inicia, mas eles mesmos seguem seus próprios caminhos, tomando rotas alternativas àquelas que estavam planejados, extendendo alguns caminhos, encurtando outros, tirando outros do papel completamente. E acabam quando querem. Não quando o autor quer. Terminam como e quando querem. Se tentar continuar, vai parecer errado. Têm de terminar com uma frase de impacto - sempre. O final é o que importa, disse Johnny Depp em A Janela Secreta. É mesmo. Se você escrever uma história magnífica e tiver um fim ruim, não será uma boa história. A última frase, por sua vez, tem de ser a mais explendorosa de todas. Tem que haver aquele gostinho de que deveria ter continuado no fim da história. Aquele último suspiro. O "boa noite" da escrita. E, claro, pode tentar se esforçar o quanto quiser para elaborar a boa frase final. Mas ela sempre vem pronta.

É como se os textos estivessem esperando por serem escritos. Me sinto psicografando, às vezes, e, ao reler, me surpreendo com o que escrevi. Eles têm vida própria. Não fui eu quem escreveu. Os personagens seguem seus rumos. O cenário se mostra. As ações ocorrem. Tudo isso independe do escritor. Ele é o historiador: aquele que apenas relata verdades que não presenciou, ocorridas em terras distantes nas quais não acreditamos mais.