3.6.07

Preguiça de ler, gente? É isso??

Rosas de Prata

CAPÍTULO 3
Duelo com o Dragão


O sol nascia radiante, enquanto nossos heróis subiam o morro para definirem de uma vez por todas seus destinos incertos. Uma risca de luz cobria vagamente as montanhas mais altas, aquelas do fim do mundo que parecem nunca acabar. O horizonte era um palco iluminado para a grande estrela laranja florescente que aparecia aos poucos para dominar o dia, aquecendo e trazendo vida às criaturas que haviam ficado imóveis durante a noite.

À medida que Darwin subia, o sol parecia fazer o mesmo movimento, movendo-se na mesma lenta velocidade, naquele fantasioso nado sincronizado pela vida. Tudo começou a aquecer-se. Pareciam estar andando em direção ao sol. Ou era apenas o suor da exaustão? Pouco importava.

Agora estavam em um chão nivelado com a Torre da Escuridão, que estava mais monstruosa que nunca. Não. Não era o sol, a exaustão, o suor. Era a fumaça vinda do Dragão que proporcionava tal calor aos seus mais novos visitantes.

Darwin respirou fundo, engasgando com a fumaça, mesmo vinda de tão longe. Apertou fortemente as rédeas e liderou Black em direção à Torre. Deram alguns passos, mas o cavaleiro parou o animal de repente ao perceber que não mais ouvia o bater das asas próximo à sua orelha. Olhou para trás. A fada era quase invisível à luz do dia, mas dava para perceber o leve contorno cor-de-rosa à distância.

O garoto chamou-a com um movimento de sua mão coberta por aço. O pequeno movimento negativo da cabeça de Zaphira era perceptível demais, já que estava totalmente imóvel, sem contar pelo movimento das asas que a mantinha flutuando. O cavaleiro nunca recebia um não como resposta, e esta não seria a primeira vez. Desceu do cavalo e andou até ela rapidamente e fez a pergunta, como se fosse um desafio à morte:

—Por quê?

—Porque você deve prosseguir sem minha presença. Eu já lhe acompanhei por tempo suficiente e já lhe despertei tudo o que tinha a despertar. Por isso, jovem Darwin, deve ir e salvar a princesa sozinho. Temo que tenho que ficar aqui, não posso ir contigo.

A fada pousou sobre o ombro do cavaleiro e inclinou-se para frente (naquela pose que só as fadas sabem sustentar), beijando sua face coberta de metal. Voou para frente do rosto de seu companheiro, dando-lhe um último sorriso e um aceno de adeus. Com estes últimos atos, o campo energético ao redor da fada inflou até chegar ao tamanho de um prato grande. Duas fendas de luz cor-de-rosa brotaram da parte superior e inferior do globo, abriram como um leque e, numa explosão de luz muito florescente, cegou Darwin, que gritou.

Entretanto, o mesmo não gritou porque tudo ao seu redor tinha escurecido em relação e por efeito da explosão, mas porque Darwin sabia o que aquilo havia significado. O Mago Nacademus tinha ensinado ao seu aprendiz que, quando o trabalho de uma fada terminava, ela explodia de prazer de ver seu trabalho feito. Por isso, podia-se dizer que as fadas sempre morriam felizes, já que não se podia matar uma fada. Nunca, nada consegue afetar a enorme energia sempre positiva das fadas.

Zaphira poderia ter explodido de felicidade, contudo o coração de Darwin parecia pesar uma tonelada, mesmo com o enorme vácuo que começava a se formar. Andou até o cavalo, deu um tapinha no seu pescoço, suspirando, e falou:

—Acho que estou totalmente só nessa, não é mesmo? Cavalos morrem de medo de fogo... E isto inclui você, Black. Acho que não vou demorar muito, então, se eu não voltar daqui a cinco dias, volte para o Reino, volte para Nacademus e vá conhecer seu novo cavaleiro.

O animal expirou fortemente. Darwin deu novo tapinha em seu pescoço, olhando fixamente à Torre da Escuridão. Afastou-se de Black, enquanto este começava a pastar pela grama rala, e foi em direção à sua meta.

O sol estava alto durante o meio-dia, e o calor e a fome tomaram conta de Darwin, mas esta não era hora de pensar com o estômago. Estava em frente à nebulosa Torre da Escuridão. Por algum motivo, sozinho e de tão perto, a Torre parecia bem maior e muito mais tétrica. Tirou a espada da bolsa em seu cinto e, respirando fundo, quebrou facilmente o trinco de ferro desgastada daquela imensa porta de madeira descascada e queimada.

Com o primeiro passo para o interior da Torre, nosso jovem herói já percebeu que o tão esperado resgate à princesa não seria nada fácil. Estava muito escuro, porque a Torre não possuía janelas, e a única luz que havia era aquela do fogo do Dragão, expelidos pelos roncos sonolentos vindos da próxima cela à direita do corredor. Este fogo iluminava mal o interior da Torre (talvez daí seu nome), contudo mostrava bem os destroços de outros cavaleiros, aqueles que vieram antes de Darwin, pelo mesmo motivo, jogados por todo lugar. Alguns com os esqueletos totalmente destorcidos, outros simplesmente haviam morrido de queimadura, pois suas carcassas estendiam-se perfeitamente atrás de armaduras enferrujadas, outros ossos enlaçados entre alumínio que um dia fora derretido.

Darwin olhou para cima. Com certeza a princesa estaria no quarto mais alto e mais longe. A escadaria única de pedra que crescia circularmente do chão até o mais alto ponto da torre era o único meio para chegar até a princesa. Andou até o primeiro degrau. Estes eram altos e espessos. Darwin subiu alguns degraus cautelosamente, sem fazer ruído. Enquanto caminhava lentamente, olhou para o monstro mostrado com o brilho de suas próprias chamas. O Dragão era enorme. Coberto por uma couraça negra, possuía um corpanzil com o abdômen gordo, de onde saía aquela cauda grossa como uma jibóia depois de engolir um boi, com espinhos grossos e pontudos que eram ramos de seus ossos interiores e cortavam a própria carne da besta. Das costas saíam asas, não como as delicadas asas de Zaphira, mas como horrorosas e imensas asas de morcegos. Pernas e braços curtos, todavia musculosos, com dedos cujas unhas pontudas eram de amedrontar o mais valente guerreiro. Sua cabeça era horrível: parecia o fuço de um cavalo cujas narinas, orelhas e dentes caninos haviam crescidos em demasia. As chamas expelidas por aquelas narinas terrivelmente imensas iluminavam horrivelmente a cara daquela criatura das trevas. Havia mais fumaça e fuligem aqui do que em qualquer outro lugar da Torre.

O coração apertado e a cabeça doendo com a fumaça, Darwin continuou a andar, espiando o bicho de longe, rezando para que o Dragão não percebesse sua presença. Mas era impossível que ele não percebesse. Dragões tinham os cinco sentidos muito bons. O cheiro de carne fresca e o ruído de metal na pedra eram de acordá-lo – sem contar, alegrá-lo. E, proferido o pensamento, o dragão inspirou, roncando com tal grandeza que Darwin, distraído, errou o passo, escorregou e rolou vários degraus abaixo, fazendo uma barulheira de perturbar um surdo. E perturbou a fera, que não era nada surda.

A criatura abriu os olhos amarelos, uma mistura entre olhos de gato e de cobra. Logo avistou o garoto estatelado aos pés da escada. Darwin estremeceu. Sentia ainda mais calor no pescoço. Ao assistir ao dragão erguer-se (primeiro o corpo, depois a cabeça, rosnando de um jeito que suas narinas expelissem fumaça), o cavaleiro ergueu-se também e pôs-se a correr escada acima, a fim de ficar nivelado à garganta da fera. Parando, tirou a espada novamente e (por alguma razão desconhecida, mas certamente idiota) começou a fazer movimentos ameaçadores, balançando a arma pesada a sua frente, de um lado para o outro.

Se estava tentando hipnotizar o dragão ou não, nada funcionou, mesmo que a fera continuasse olhando fixamente ao seu alvo. Seus olhos brilhavam maliciosamente. Certamente estava com fome. Havia 50 anos que não aparecia nada vivo por lá e dragões não se alimentam de fumaça, você sabe. Lambeu seus beiços de couro escamado com aquela língua cor de sangue, a ponta bifurcada como a de uma cobra. Fixou seu olhar em sua presa. Para Darwin, aquele pequeno intervalo de tempo parecia demorar muito mais do que realmente existia no mundo.

Desfocou o olhar, abriu a boca exibindo uma fileira de dentes semelhantes aos espinhos de sua calda. Do fundo de sua garganta saiu um fogaréu em direção a Darwin, que fugiu, correndo alguns degraus acima, sentindo o calor desconfortável misturado ao bafo fedorento do dragão. A besta tomou fôlego outra vez e metralhou contra aquele bichinho que subia deseperadamente, o grande escudo pulando em suas costas como se estivesse num touro mecânico.

Darwin tropeçou nos próprios pés e estava agora de quatro, os membros superiores num degrau, os inferiores na de baixo. De alguma maneira extraordinária e sobrenaturalmente azarada conseguiu prender o pé esquerdo num buraco entre os degraus. Quanto mais esforço fazia para sair daquela posição infeliz, mais preso parecia ficar.

Dragões não comem fumaça, como já disse, mas bebem desespero e o sangue em suas artérias corre por causa do sofrimento alheio. Por isso, a criatura logo sentiu o odor do ódio e seguiu até lá. Seus olhos brilharam ao verem Darwin se contorcendo e, assim, sua boca encheu-se de saliva, que escorregou do beiço e pingou na escada, criando uma poça gosmenta perto de Darwin. O dragão inclinou-se para frente, abocanhando o inseto.

Tudo escureceu.

Por algum tempo Darwin pensou que estivesse morto e tinha ido ao inferno. Respirava com dificuldade o ar quente e fedido daquele lugar escuro e percebeu que o coração batia com severidade. Concluiu então que ainda estava vivo. Tomando consciência de sua posição percebeu que estava pendurado no ar pelo pescoço. Então lembrou de onde estava: jazia dentro da boca do Dragão, o escudo, que se prendia por um cinto de couro ao redor do pescoço, preso entre dois dentes afiados e amarelados. A armadura do pé provavelmente estava ainda presa no buraco, já que agora seu pé estava nu e, felizmente, ainda no fim da perna.

Darwin agradeceu ao Criador por ter dado aos dragões um vácuo tão grande dentro da boca e jurou montar uma banda Gospel assim que saísse de lá. Ei! Não! Quando saísse de lá seria Rei do grandioso Reino das Fadas. Com seu plano já arquitetado, a espada firme em sua mão direita, quase engasgando até a morte, o desejo por poder como sua única ponte de volta para a vida. Pôs a mão esquerda também na espada, agora voltada para cima, e, num gesto rápido, afundou a lâmina no céu-da-boca da fera, onde (esperava Darwin) era o cérebro. Veio uma vibração do fundo da garganta da besta, sacudindo um Darwin pendurado pela espada e pelo escudo: um grito de dor. Darwin puxou a espada de volta para si deixando uma nascente de um rio de sangue, cortou o cinto do escudo e pulou pela boca aberta da estridente criatura. Fora levado com a correnteza de sangue até o chão, de onde assistiu a besta espernear e sangrar por algum tempo. Quando se deu conta de que o dragão ia cair, Darwin subiu alguns degraus e viu, finalmente, a queda do grande dragão da Torre da Escuridão de camarote.

Nenhum comentário: