25.10.05

Nunca tinham-na visto sem maquiagem. Nunca. Ninguém. Podia ser o mais cedo da manhã ou o mais tardar da noite, ela continuava lá, firme e forte, com todos os seus pózinhos.

E era alegre, também. Sempre muito alegre, de bem com a vida. E sorria sempre, para todos. Cumprimentava-os, todos, como se os conhecesse, todos. E todos a queriam bem. Não a conheciam, mas gostavam dela. Sempre alegre, sempre maquiada.

Certo dia apareceu uma feminista por lá. Mulher grosseira, mal arrumada, viva descabelada, de cara lavada e revoltada.

A primeira pessoa com quem implicou foi a maquiada, porque, lógico, se pintava. Chamava-a de vendida. Tinha certeza de que não se gostava assim, urg!, maquiada. Gostava, sim! Ela é que tinha inveja, porque era feia.

- Feia?! Eu??

- Mal arrumada! Se pelo menos passasse um batonzinho...

- Sou o que sou, com minha própria cara. Não uso disfarces como você, só para agradar aos outros.

- Desde quando uso disfarces?

E caiu na gargalhada. Riu tanto, tanto, que o pó começou a endurecer-lhe as covinhas, a pele do rosto. Aos poucos ficava paralisada. Olhos fechados, boca aberta, n um riso que aos poucos emudecia.

Ao final daqui, a feminista saiu dali, horrorizada, triunfante.

A maquiada finalmente foi feliz. Virou estátua. E pôde ser bonita sempre e sorrir para todos, mesmo que não os conhecesse.

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